Melanoma da íris em idade pediátrica: tratamento com radioterapia de feixe de protões externo

Autores: 

Inês Coutinho, Peter Pêgo, Mário Ramalho, Catarina Pedrosa, Mafalda Mota, Cristina Santos, Isabel Prieto, João Cabral

Resumo: 
     Introdução: O melanoma da íris é um tumor raro na faixa etária pediátrica. As opções terapêuticas, que incluem a iridectomia, iridociclectomia, enucleação, braquiterapia ou radioterapia com feixe de protões externo, dependem, entre outros factores, do tamanho e extensão do tumor, estado geral do doente e do olho adelfo. A radioterapia com feixe de protões externo (PBT) é, actualmente, utilizada nos tumores extensos e difusos, em que a ressecção local é difícil. Tem demonstrado baixa taxa de recidiva, sendo a principal complicação a catarata, que na idade pediátrica constitui um desafio cirúrgico.
     Materiais e Métodos: Criança de 8 anos de idade, pele e olhos claros, com lesão pigmentada inferotemporal da íris do olho esquerdo. A lesão foi interpretada como um nevus da íris e documentada através de fotografias seriadas do segmento anterior e biomicroscopia ultra-sónica. Após 6 meses, verificou-se crescimento da lesão, em diâmetro e espessura, com corectopia e ectrópio uveal, sem envolvimento do ângulo e do corpo ciliar. Perante esta evolução, assumiu-se a hipótese de melanoma difuso da íris e foi realizada radioterapia com feixe de protões externo.
     Resultados: Após 18 meses de radioterapia, desenvolveu catarata subcapsular posterior no olho esquerdo, condicionando uma diminuição da melhor acuidade visual (MAVc) de 10/10 para percepção luminosa. Aos 11 anos, foi submetido a cirurgia de facoemulsificação micro-incisional combinada com capsulorexis posterior primária, injecção intracamerular de triamcinolona e implante de lente monobloco intra-ocular. Com 5 meses de seguimento, a MAVc do olho esquerdo é de 10/10, sem complicações a relatar. Três anos após a radioterapia, não se observa qualquer recorrência do tumor nem evidência de doença metastática.
     Conclusões: Apresentamos um caso clínico de um melanoma de íris difuso em idade pediátrica, tratado com PBT e com evolução clínica favorável. Esta opção terapêutica foi bem tolerada, sendo a principal complicação o desenvolvimento de catarata que, embora constituísse um desafio cirúrgico, foi resolvida com sucesso. O uso de micro-incisão, triamcinolona intracamerular e capsulorexis posterior asseguram menor inflamação, mais rápida recuperação visual e transparência do eixo visual.

 

Apresentado: 
no 53º Congresso Português de Oftalmologia, Em Vilamoura, Dezembro de 2013