Rita Silva, Mara Ferreira, João Cabral, Francisco Rosário, Jorge Oliveira
Introdução: Na Doença de Graves (DG), o diagnóstico precoce da Orbitopatia Tiroideia (OT) é fundamental para que se possa evitar as graves sequelas físicas e psicológicas de uma OT não tratada.
Este estudo teve como objetivo avaliar os resultados da articulação precoce entre as áreas especializadas de Endocrinologia e Oftalmologia, na consulta de Olho-Tiroideia.
Material e Métodos: Avaliação retrospetiva de 10 anos dos resultados da articulação feita para a consulta de Orbitopatia tiroideia do Hospital da Luz, antes e depois da criação de um protocolo de referenciação precoce, instituído em 2014. Os doentes seguidos em consulta foram caraterizados com base em 2 grupos de estudo: grupo 1 de referenciação precoce, com <1 Ano (A) de diagnóstico de Doença de Graves (DG), vs o grupo 2 com >1A de diagnóstico de DG. A atividade da OT foi avaliada através do Clinicai Activity Score (CAS). A análise estatística dos dados foi realizada em SPSS (versão 21).
Resultados e Discussão: Entre 2008 e 2018, foram observados 391 doentes na consulta de especialidade (Grupo 1:2 - 201:190), sendo 48 anos a idade média e 81% de doentes do sexo feminino. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em relação às queixas oftálmicas nos dois grupos (Grupo 1:2 - 113:128; p>0,05). Em relação à atividade da doença, os resultados foram CAS<3 = 82% e CAS>3 = 18 % no grupo 1, e CAS<3 = 92% e CAS>3 = 8 % no grupo 2, com p>0,05. O tabaco é relevante para o CAS apenas nos doentes do grupo 2 (p<0,05). O CAS mostrou-se maior nos doentes mais velhos p<0,05 (no total, mas a relação é mais forte nos doentes com referenciação precoce). O CAS também demonstra ser significativamente maior nos homens p<0,05 no grupo 1, mas não no grupo total de doentes. Em relação ao tratamento, foram encontradas diferenças entre os dois grupos de estudo (p<0,05), tendo sido instituído tratamento conservador em 54,2% vs 46,8% face aos 12,4% vs 7,3% de doentes tratados com pulsos de metilprednisolona (Grupo 1 vs 2).
Conclusões: A série estudada mostra as características de uma consulta com vasta experiência e inserida num hospital terciário com uma maior proporção de casos com mais atividade, do que a descrita na literatura. Na referenciação precoce a doença ativa é mais prevalente, sendo inferior o número de doentes sem doença ativa, mas a associação não é significativa. Na referenciação precoce há significativamente mais doentes enviados para corticoterapia por pulsos. Com o protocolo de referenciação verificou-se que o CAS em doentes precocemente enviados é significativamente diferente em relação ao período prévio, no entanto mais semelhante ao descrito na literatura - são enviados mais doentes e não apenas os mais queixosos, o que permite diagnosticar e tratar mais cedo estes doentes. Assim concluímos que ao referenciar precocemente estes doentes melhoramos a qualidade de vida, diminuindo as sequelas de uma eventual OT em doentes com DG.