Controvérsias no tratamento da orbitopatia tiroideia

Autores: 

Maria Luisa Colaço, Mara Ferreira, João Cabral

Resumo: 
     Na orbitopatia tiroideia (OT) detectar actividade da doença é um desafio uma vez que o Clinical Activity Score (CAS) apresenta limitações.
     Objectivos: descrever diferentes abordagens terapêuticas da OT activa associada a Doença de Graves e seus resultados estéticos e funcionais.
     Material e Métodos:
     Caso clínico 1: doente do sexo feminino, caucasiana, 27 anos, com queixas de diplopia, pressão ocular bilateral, dor com os movimentos oculares e alterações dismórficas faciais. À observação apresentava um score CAS 4/7 (edema palpebral bilateral, hiperemia conjuntival). Iniciou suplementação com selénio 200 μg/dia oral, lubrificação ocular e pulsos de metilprednisolona (6).
     Caso clínico 2: Doente do sexo feminino, caucasiana, 62 anos, queixas de diplopia, pressão orbitária, dismorfia facial e edema palpebral matinal. Apresentava um score CAS de 4/7 (eritema palpebral, hiperemia conjuntival e quemosis). Foi medicada com lubrificantes tópicos, selénio oral e 12 pulsos de metilprednisolona.
     Caso clínico 3: Doente do sexo feminino, caucasina, 45 anos, fumadora. Queixas de pressão orbitária, dor com os movimentos oculares, confusão matinal e dismorfia facial. À observação apresentava um score CAS 4 a 5/7 (hiperemia conjuntival, edema da carúncula e quemosis). Foi medicada com selénio 200μg/dia, lubrificação ocular e cessação tabágica.
     Caso clínico 4: Doente do sexo feminino, caucasiana, 34 anos, queixas de diplopia, visão turva e dismorfia facial. À observação apresentava uma AV 1,0 OU, retração palpebral direita de 2 mm e queratopatia (score CAS 0/7). Realizou TC orbitária, cortina de Hess, despiste da Miastenia Gravis e foi medicada com lubrificação tópica e selénio 200μg/dia.
     Resultados:
     Caso Clínico 1: Desaparecimento da diplopia, sem queixas, apresentando um score CAS 0/7.
     Caso Clínico 2: A doente apresentou melhoria da diplopia, com desaparecimento dos restantes sinais inflamatórios e um score CAS 0/7. Por novo agravamento da diplopia realizou novo ciclo de 6+2 pulsos de metilprednisolona tendo-se mantido estável.
     Caso Clínico 3: Dez meses depois apresentava um score CAS 0/7 com as queixas oculares controladas apenas com lubrificação tópica.
     Caso clínico 4: A investigação da Miastenia Gravis foi negativa, a TC orbitária mostrou ingurgitamento dos músculos rectos internos; a cortina de Hess mostrou um estrabismo divergente com limitação do músculo recto interno esquerdo; sem sinais de neuropatia ótica distiroideia. Manteve episódios de diplopia em situações de stress (sic) estando em vigilância.
     Conclusão:
     O Selénio é um co-factor enzimático importante na OT associado a melhoria franca da actividade inflamatória e manifestações oftálmicas. A metilprednisolona com actividade anti-inflamatória e imunomoduladora apresenta excelentes resultados na OT activa, contudo tem potencial de toxicidade hepática grave. Saber identificar sinais de actividade da OT e a melhor abordagem terapêutica permanece uma controvérsia e desafio para o Oftalmologista.

 

Apresentado: 
no 57º Congresso Português de Oftalmologia, em Vilamoura, Dezembro de 2014